Resíduos Nucleares no Verão de Vênus

Tony Washburn estava em sua grande missão interplanetária. Não queria confessar, mas não era seu grande sonho. Viu seus colegas serem encarregados de grandes projetos, alguns para verdadeiras missões pioneiras e que lhes dariam fama, mas a ele somente sobrou levar lixo para Vênus.

Projeto da Academia Espacial de Resíduos Nucleares. Assim estava alocado em seu trabalho, dentro da nave EPP—Earth Planet Purifier. Depois de anos de treinamento e simulações, chegava sua vez de comandar a missão de levar resíduos nucleares ao Planeta Vênus.

Depois de décadas de pesquisa inovadoras em foguetes, combustíveis, manipulação de resíduos  nucleares e robótica, a nave se beneficiaria da viagem de alguns anos em direção ao Sol.

Antes porém havia uma pequena parada para abastecimento de sua nave. O Capitão Washburn levava um pequeno grupo de trainees para o comando de transporte espacial e explicava o que aconteceria na parada de abastecimento.

“Vamos ter exemplos de combustíveis em todos os estados na nave. Aqui tivemos no estágio de saída da Terra, a propulsão via combustíveis híbridos sólido e líquido. Abandonando o estágio 1, iremos abastecer com os contêineres de metano.”

O Capitão demonstrava uma certa falta de entusiasmo e mantinha uma feição séria e um pouco sombria. Os trainees procuravam manter o foco com plena atenção à apresentação.

“O metano está sendo produzido pelos contentores inteligentes na atmosfera da Terra. Ficaram por anos absorvendo o Metano, até atingirem a carga máxima. Depois vieram para nossa órbita, onde por meio de Robots de navegação, encheram esse grande reservatório de Metano que acabamos de acoplar em nosso estágio 2. Será nosso combustível até Venus. Com menos empuxo, iremos rumo ao Planeta com plenas condições de navegação. Com relação aos resíduos nucleares, também vieram em contêineres especiais e estão em órbita há alguns anos. Outros Robots irão agrupá-los e serão nossa carga principal.”

“A fragmentação de carga e combustível foi ao longo dos anos a chave para que aumentássemos a segurança da manipulação do resíduo nuclear, pois antes todas as nações bloqueavam projetos como o nosso. Hoje sabemos que toda a operação é muito mais segura e é improvável qualquer desastre como tivemos nos primórdios da Tecnologia Nuclear.”

“A Robótica espacial foi outro item que transformou completamente nosso negócio. A EPP não existiria sem os Robôs que organizam todo trabalho para nossa viagem na direção do Sol. Vênus não proibiu que a humanidade despejasse seu lixo nuclear no planeta. E outra classe de  Robôs na superfície de Vênus organizam tudo. Classificam, Movimentam e Armazenam o lixo. São Robôs com resistência às altíssimas temperaturas do Planeta, mas fazem porém operações básicas e um tanto quanto brutas. Não temos tanta inteligência robótica na superfície de Vênus.”

Venera Space Probe (at Pixabay.com from DasWortGewand)

Então, muitos meses se passaram

Depois da nova propulsão da órbita da Terra, agora a EPP se aproximava de Vênus. Na rotina da nave, tudo ia bem e todos aguardavam a chegada no planeta para a operação do lançamento da carga rumo a superfície quente do planeta. Quando finalmente esse período chegava ao fim, todos se reuniram para uma nova reunião na sala principal de observação da nave.

No painel sondas-satélite na atmosfera de Vênus transmitiam imagens a nave. A partir da aproximação uma imagem de movimento com alta-resolução e em cores, pode ser mandada das sondas para a nave. O Capitão pediu atenção para região do depósito de resíduos nucleares e pouco a pouco, algo estranho pode ser percebido…

Todos observaram uma névoa violeta praticamente estabilizada sobre parte dos resíduos químicos. Havia um computador a bordo com uma base de dados e capacidade de inteligência maior que os robots ou probes na órbita de Venus. Todos temiam que pudesse ter havido alguma explosão nuclear, por aquela luminescência ou mesmo um vazamento de material radioativo na superfície de Vênus. Era algo improvável já que o material que havia sido mandado era “resistente” a altas temperaturas, permanecendo estável naquelas condições, na forma que havia sido segmentado e armazenado. A temperatura na superfície de Vênus era 480o C (ou 900o F) e os materiais radioativos reciclados tinha ponto de fusão muito maior, em geral acima de 600o C.

No entanto, havia componentes diversos nos resíduos. Capitão Washburn aguardou o relatório do computador principal e informou que já havia um bom palpite para a nuvem violeta.

“Caros tripulantes, o computador da EPP informa que temos mais de 99% de chances de que a névoa violeta seja Iodo gasoso. O Iodo tem um ponto de fusão de 457o C, e possivelmente estava presente em alguns compartimentos reciclados, misturados nos outros materiais. No entanto, não foi detectada nenhuma explosão. Os contêineres da superfície possuem uma característica de adaptação a altas temperaturas, e possivelmente houve um vazamento controlado de Iodo em estado gasoso nessas condições, mas dentro de uma normalidade plausível.”

“O que vocês vêem agora, é uma nuvem passageira de Iodo. Em algum tempo, o clima vai “abrir” para os contêineres. Mas precisamos passar para a próxima fase. Vamos brincar de arremesso de longa distância em Vênus?”

Os trainees, quase sem tirar os olhos da cena inusitada, fizeram anotações e extáticos, aguardavam o próximo evento.

Repost do Original neste blog de 5/nov/2018, “Nuclear Waste in the Summer of Venus”

Main Imagem from “GoKingSword” at Pixabay.com


                      

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